O papel do psicólogo na Unidade de Cuidados Continuados Integrados

Não raras vezes o psicólogo surge no imaginário coletivo como alguém que somente conversa com o paciente, paciente este que, obviamente, se encontra deitado num divã. Assumindo que não está incorreto dizer que existe um diálogo entre as partes, há que sublinhar que o psicólogo abraça diferentes competências que em muito ultrapassam a simples apetência para a conversação. E se é verdade que muitos leigos na área têm competências interpessoais que lhes permitem ser bons ouvintes, também é verdade que nenhum possuirá as competências teóricas e técnicas, específicas e cientificamente validadas, necessárias para “trabalhar o que o outro lhe traz”. Na UCCI, estima-se que a média de idades dos utentes seja superior a 65 anos, com a predominância de doenças neurológicas, com ou sem comorbilidades, assim como questões psicossociais associadas ao internamento. Sabendo que vários estudos indicam que o declínio cognitivo nesta população, durante um internamento, se associa a um risco aumentado de perda funcional ou mesmo de dependência do cuidado de terceiros – independentemente da idade, do sexo, das comorbilidades e da incapacidade motora na admissão –, e que o declínio cognitivo pode ser tanto um fator preditivo quanto uma consequência da incapacidade funcional, tornam-se fundamentais intervenções cognitivas. Neste sentido, a equipa de psicologia, na UCCI, faz avaliações psicológicas e neuropsicológicas, acompanhamentos psicológicos, elaborando também programas de reabilitação/estimulação cognitiva individual e/ou em grupo. Programa de Estimulação Cognitiva em Grupo na UCCI A estimulação cognitiva refere-se a um conjunto de técnicas orientadas para a promoção das capacidades cognitivas, tais como a memória, atenção, linguagem, funções executivas, entre outras. O objetivo destas intervenções cognitivas é o de maximizar as funções que se encontram mantidas e aumentar o desempenho daquelas que, não estando completamente perdidas, já estão diminuídas. Isto ajuda a melhorar ou manter o nível de desempenho cognitivo e, eventualmente, a atrasar o inevitável declínio. Há que salientar então que, ao contrário de outros tipos de atividades que priorizam o entretenimento das pessoas e onde a improvisação predomina na atuação, a estimulação cognitiva tem uma base científica e teórica, assim como um propósito terapêutico. Desta forma, na UCCI, a estimulação cognitiva é uma intervenção especializada, concebida e/ou supervisionada por psicólogos com formação em neuropsicologia. Existe uma prévia avaliação psicológica/neuropsicológica dos utentes, de modo a identificar os processos cognitivos preservados, os processos perdidos e os processos alterados, e só depois os programas de estimulação cognitiva são elaborados e adaptados às dificuldades, motivações e interesses dos participantes. Apenas após esta etapa, a alocação dos utentes é definida, visando a homogeneidade dos grupos. Com o objetivo de compreender o efeito do programa de estimulação cognitiva há uma reavaliação psicológica e neuropsicológica findado o ciclo de sessões. Estas intervenções, combinadas com outras, numa visão multimodal e multidisciplinar, têm como meta o aumento da autonomia do paciente, a melhoria da qualidade de vida, assim como a diminuição da sobrecarga familiar. Afinal, na UCCI, os utentes não ficam deitados no divã a conversar com o psicólogo! Dra. Ana Luísa Sousa e Dra. Jeni Colaço, Psicólogas estagiárias na UCCI da Santa Casa da Misericórdia de Leiria.