A universidade Sénior da Santa Casa da Misericórdia de Leiria, tal como acontece com muitas outras que foram sendo criadas em muitas localidades do nosso país, apresenta-se como uma resposta, entre muitas outras que se poderão desenvolver, às características e condições de vida da população mais idosa num tempo em que, uma vez a vida profissional terminada, muitas pessoas se veem confrontadas com o isolamento e a solidão, visto que as antigas redes de suporte que existiam no tempo em que pais, filhos, avós e netos conviviam num espaço geográfico comum, desapareceram e a aposentação/reforma é, para muitas pessoas, o mergulhar no vazio.
Neste contexto, uma Universidade Sénior constitui-se como aquele espaço onde se podem redescobrir novas relações interpessoais e, com isso, combater a solidão e a sensação de abandono, e também como oportunidade de fazer e conhecer aquilo que, ao longo da vida profissional, foi sendo adiado ou mesmo deixado para trás por falta de oportunidade e de condições concretas.
Há um aforisma que poderíamos utilizar para enquadrar a existência de uma Universidade Sénior: “Aprender até morrer”. E creio mesmo que esta é a verdadeira razão da existência de uma instituição destinada a tornar o entardecer da vida cheio de cor e de sentido.
Do ponto de vista emocional e afetivo, estar com os outros, em ambiente descontraído e em convívio sereno ao mesmo tempo que nos ocupamos a fazer e a aprender aquilo que nunca tivemos oportunidade de concretizar, é extremamente
positivo e contribui para aquela sensação de bem-estar pessoal que se traduz no sorriso feliz experimentado em cada encontro e no alegre conversar a propósito do que vivemos e do que estamos a aprender.
A nível intelectual, a Universidade Sénior é aquele espaço onde fazemos “ginástica mental” por- UNIVERSIDADE SÉNIOR
que ali podemos estimular o cérebro, descobrir ou redescobrir áreas de interesse que mantêm a mente ativa, através do conhecimento que se adquire ou que se enriquece e através de atividades que estimulam a dialética mão-cérebro
e que ajudam a preservar e até a melhorar a coordenação motora geral e a motricidade fina.
Estes tempos e espaços são oportunidade e desafio para que a sociedade em geral e as instituições sociais em particular desenvolvam a cultura do encontro contra a solidão, do cuidado contra a depressão e o abandono, do existir ativo e com sentido contra o vazio e a tristeza, do fazer e do agir contra o ficar apenas a ver sem olhar porque desligados de tudo, da partilha de saber e de vida contra o fechamento e o sem sentido.
Quando conseguirmos que estas dinâmicas aconteçam com a generalidade das pessoas, promoveremos a redescoberta do encontro intergeracional, que constitui a dinâmica normal da existência humana, e semearemos de sorrisos felizes o outono da existência de todos nós numa dinâmica de dar e de receber em que ninguém é tão rico que já não precisa de nada nem ninguém é tão pobre que não possa dar nada. Porque somos todos portadores de riquezas a partilhar e pobrezas a vencer. E é por isto que vale a pena a Universidade Sénior. Porque lugar de ser e de (re)aprender, lugar de partilha e de viver. De simplesmente colorir com novas e alegres cores o entardecer do existir.
virgilio mota
Professor da Universidade Sénior da Misericórdia de Leiria