EFEITOS DO CONFINAMENTO NAS ESTRUTURAS RESIDENCIAIS PARA PESSOAS IDOSAS - O PLANO DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA – PRR

A pandemia levou a uma perda de capacidades motoras, cognitivas e relacionais em pessoas mais vulneráveis que residem em Estruturas Residências para Pessoas Idosas. Não só por falta de estimulação, não só pelo enclausuramento diário de 24 sob 24 horas, mas também pela falta de capacidade de aumentar o investimento para a inovação e adequação destas respostas sociais às verdadeiras necessidades do envelhecimento há muito identificadas. O Lar Nossa Senhora da Encarnação foi exemplar na resposta à pandemia, com um modelo de atuação que devia ser replicado no funcionamento Ministerial. Numa articulação clara entre o social e a saúde, as equipas do LNSE mantiveram os procedimentos de segurança, de higiene e as boas práticas exigidas, possibilitando que passássemos ilesos perante três vagas de Covid-19. Através da construção de pontes e palcos de trabalho interdisciplinar, não só interno, mas também com as entidades externas da cidade de Leiria, permitiu que todas as colaboradoras e todos os técnicos do LNSE cumprissem uma missão extraordinária sem precedentes, com muito sucesso. Mas é preciso pensar no futuro. É preciso que o Estado reconheça estas mulheres e estes homens que estão desgastados, com uma remuneração enquadrada na mínima nacional e é preciso reconhecer que a pandemia veio mostrar as fragilidades do sistema que enquadra o funcionamento deste tipo de respostas socias. Este é o momento certo para se pensar em novas respostas, em novas maneiras de encarar o ciclo de vida e reconhecer as carreiras dos profissionais deste setor olhando de uma outra forma para a orgânica do Setor da Economia Social e Solidária. Temos de continuar o trabalho em torno da construção e melhoria contínua da Lei de Bases da Economia Social, que não pode ser um documento analisado e tratado como algo estagnado e finalizado. Com este mote é o momento certo para mudar o setor, as condições de trabalho e carreira das pessoas que nele trabalham, melhorando de forma contínua a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar das pessoas que o setor serve. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tem entre os seus objetivos o alargamento das respostas sociais para pessoas com mais de 65 anos, num investimento previsto de 417 milhões de euros até 2026, destinando-se a alargar a rede e a capacidade de resposta dos equipamentos sociais nas suas diversas dimensões, com o alargamento de vagas e a criação de soluções inovadoras, como a nova geração de apoio domiciliário 4.0 e novas respostas sociais. O objetivo é chegar a 60 mil pessoas, promovendo a coesão social e territorial e reabilitar e licenciar lares que têm estado fora do sistema. É uma excelente iniciativa, mas não podemos cair no mesmo erro de construir paredes e esquecermo-nos das pessoas. A prioridade não é, nem pode ser a construção de novas ERPI’s típicas ao seu serviço assistencialista, nem a criação de mais depósitos diários do crochê e da malha. As exigências hoje são outras e a necessidade passa por investir na reabilitação dos pivots do envelhecimento, nomeadamente as antigas ERPI’s e adaptá-las e requalificá-las para os novos desafios do fim de vida. O futuro é a comunidade, a prevenção para a longevidade com qualidade e o combate aos estereótipos inerentes a estes serviços, ao setor da economia social e solidária, e inerentes ao envelhecimento. O PRR não pode ser visto como o pilar fundamental do futuro do envelhecimento saudável, mas sim como o pilar fundamental da quebra das linhas de intervenção tradicionalistas e como uma a oportunidade única da próxima década, de inverter a ideia cooperativa da intervenção conjunta para a ação social e para o apoio e intervenção no envelhecimento. Depois de um período muito difícil para as vivências de todos os atores deste setor, temos de confinar o nosso foco para uma transformação interdisciplinar das estratégias locais, com a descentralização das competências, temos de criar pontes políticas e científicas para uma intervenção preocupada em resolver os desafios do envelhecimento demográfico, e preocupada com a recuperação do setor da economia social e solidária, com os seus trabalhadores, dirigentes e beneficiários. A vida das pessoas não pode ficar pendurada às omissões e falsos compromissos de 4 em 4 anos, é preciso criar o contraditório, debatêlo e criar soluções para todos estes desafios, que já há muito tempo que deixaram de ser problemas. DR. DIOGO BATALHA, Administrador da Santa Casa da Misericórdia de Leiria